Como já discutido em posts anteriores, o mercado de capitais brasileiro ainda é muito concentrado em empresas da velha economia, o que já mudou de figura no mercado dos Estados Unidos onde as empresas de tecnologia e saúde vem ganhando cada vez mais relevância.
O investidor brasileiro tem a possibilidade de investir no exterior via Brazilian Depositary Receipts (BDR) por meio da B3, e com os ETFs (Exchange Traded Funds) ou fundos de investimentos que investem em BDRs. Investir em BDR é como aplicar o seu dinheiro em ações no exterior, correndo inclusive risco cambial, mas sem tirar os recursos do Brasil. Na verdade quando se investe em um BDR da Apple (por exemplo), o que se adquire é um título (um recibo de depósito) de ações da Apple que estão guardadas (custodiadas) nos EUA, mas fique claro que você não é acionista da Apple mas sim detentor de um recibo de ações da Apple custodiadas no exterior. Veja o site da B3 sobre BDR para entender mais sobre o produto: http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/brazilian-depositary-receipts-bdrs-patrocinados-niveis-i-ii-e-iii.htm
Para quem tem medo de confiscos do governo brasileiro, o BDR não é a solução pois os recursos continuam no Brasil, aí a alternativa é abrir conta no exterior e remeter os recursos para lá. Depois do que se passou com o governo Collor acredito que em breve não teremos confiscos, pois todos viram que não foi uma alternativa para ajustar a economia, e levou ao impeachment do presidente. Se você não liga para confisco e quer ter a rentabilidade de um investimento no exterior então BDR é boa opção.
Antes de falar de carteiras de BDRs, vamos entender o comportamento entre o índice de ações S&P500 dos Estados Unidos e a taxa de câmbio do Real frente ao dólar dos EUA (BRL/USD). Para medir o comportamento usamos a correlação, uma medida estatística que quanto mais perto de +1 for então mais 2 ativos financeiros tem comportamento similar, e quanto mais perto de -1 então mais 2 ativos financeiros tem comportamento oposto. O gráfico a seguir mostra as correlações do índice S&P500 (em USD) com a taxa de câmbio BRL/USD de 30/06/1994 (início do Real) até 30/06/2020, considerando períodos que vão de 26 anos até 1 ano todos finalizados em 30/06/2020.
Notem que mesmo variando os prazos (1 a 26 anos) as correlações são negativas (mas não perfeitamente), o que é bom para diversificação do investimento, pois se o S&P500 cai a taxa de câmbio BRL/USD geralmente sobe, e vice-versa. Por isso a construção de uma carteira com S&P500 e BRL/USD é interessante para o investidor. Isso pode ser feito pelo investidor brasileiro comprando BDRs individualmente, ou o ETF IVVB11 (que é equivalente a investimento no índice S&P500 em Reais) e pode se investir via home broker, ou algum fundo de investimento aqui no Brasil que aplica em BDRs.
No gráfico a seguir apresentamos a evolução das correlações anuais do S&P500 com a taxa de câmbio BRL/USD, e as correlações entre o S&P500 em Reais (equivalente ao IVVB11) e o IBOVESPA. A boa notícia é que a correlação entre o S&P500 e a BRL/USD é geralmente negativa, e a correlação entre o S&P500 em Reais e o IBOVESPA não é perfeitamente positiva (ou seja, é inferior a +1). Assim sendo, uma carteira S&P500 em Reais é um investimento interessante para montar carteira com ações brasileiras.
De maio de 2014 (início do ETF IVVB11) até 30 de junho de 2020, o IVVB11 rendeu o equivalente a 28% ao ano enquanto o BOVA11 (ETF do IBOVESPA) rendeu aproximadamente 11% ao ano, e o risco do IVVB11 foi menor que do BOVA11 (justamente pelo efeito da correlação negativa entre S&P500 e a taxa BRL/USD), ou seja, a relação retorno/risco do IVVB11 (S&P500 em Reais) foi melhor do que do BOVA11 (IBOVESPA). No período que vai do início do plano Real até 30/06/2020, o S&P500 em Reais teve um retorno de aproximadamente 15,8% ao ano contra 13,8% ao ano do IBOVESPA, e também nesse longo período a relação retorno/risco do S&P500 em Reais foi 80% melhor do que do IBOVESPA.
Por isso pensar em investir ativos no exterior é algo que todo investidor deve fazer, ainda mais pela facilidade que há hoje no mercado brasileiro com os BDRs.
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